Andréa M. G. Leandro
No ecossistema corporativo é cada vez mais comum pessoas serem cobradas a desenvolverem, cada vez mais habilidades (hard e soft skills). Hard skills são todas as habilidades técnicas desenvolvidas ao longo da vida e adquiridas através de educação formal e treinamento, determinantes para o desempenho de certa atividade profissional, tais como, dominar ferramentas digitais e softwares, ter fluência em outros idiomas, certificações profissionais, MBA´s e programas de pós-graduação. Enquanto soft skills são habilidades subjetivas desenvolvidas por uma pessoa que dizem respeito ao seu comportamento psicossocial e à forma como se expressa emocionalmente. Trata-se de características que remetem à sua personalidade tais como comunicação eficiente e não violenta, empatia, organização e resiliência. São capacidades subjetivas que atuam no espectro comportamental e social do ser humano e não dependem de diplomas e certificados.

A Vênus de Gaveta – Salvador Dalí (1937)
O World Economic Forum produz anualmente um relatório sobre o futuro do emprego, The Future of Jobs Report. Este documento apresenta as principais tendências do mundo corporativo. O mundo pós-pandemia mudou vertiginosamente, com o isolamento prolongado e a introdução do trabalho remoto no ecossistema empresarial, que consequentemente, fez com que as atividades se tornassem mais solitárias, com menos interações e o esfriamento das relações sociais, afetivas e profissionais passou a exigir do mercado atenção redobrada às habilidades para lidar com o ser humano. Um estudo realizado pelo Linkedin em meados de 2020, demonstrou que as soft skills se tornaram tão, ou mais importantes que as hard skills. Também um estudo realizado pela Deloitte Access Economics previu que até 2030, as empresas com olhos no futuro farão importantes investimentos para o desenvolvimento destas habilidades em seus steakholders.
O desenvolvimento de soft skills envolve processos internos de consciência plena, autoconhecimento e aprimoramento da inteligência emocional. Há muito se foi o tempo, em que, liderar significava saber dar ordens e ser obedecido. O líder do futuro precisa de muito mais que isto. Hard skills podem ser adquiridas até através do Google, gratuitamente. No entanto, adquirir soft skills e ser um líder inspirador, persuasivo e que arraste sua equipe para o sucesso, através do seu exemplo, exige muito mais que uma liderança de posição. Exige outrossim, assertividade na função que exerce e na resolução de problemas complexos, mantendo um ambiente produtivo, mesmo diante de diagnósticos negativos. O pensamento crítico e proativo permite-lhe antecipar conflitos e ter sensibilidade para a tomada de decisões em situações desafiadoras. Ter a capacidade de “pensar fora da caixa” é outra exigência do mundo corporativo moderno, crendo-se que criatividade não é uma habilidade inata, pode ser desenvolvida. Se manter em standards de gestão de pessoas ultrapassados e velhas práticas, jamais retirarão uma empresa do passado e a projetarão para um futuro de grandes conquistas.
Gestão de pessoas deve ser a maior preocupação de uma empresa que busque destacar-se no futuro e ser vista como uma empresa que avança na direção de reconhecimento e excelência. Os Líderes de instituições em desenvolvimento, precisam ter em vistas que pessoas, não são apenas um ativo, mas que, são microcosmos, um conjunto de habilidades, caracteres e emoções. Pensando nisto, um líder que não consegue fazer gestão das próprias emoções, jamais poderá gerenciar pessoas com suas emoções tão peculiares. O verdadeiro líder sabe enxergar as habilidades de cada player de sua equipe, delegar tarefas, assumir compromissos, administrar conflitos e tomar decisões no momento adequado. Para estar à frente do comando de uma equipe, o head de área precisa treinar um time que trabalha em sinergia e impulsiona o melhor cenário para a criação de um ambiente mais produtivo e saudável; ou jamais verá resultados palpáveis em sua organização. Liderança é serviço, aprimoramento diário e incansável, estudos e busca ininterrupta por conhecimento, compreensão e aplicação de novas técnicas e habilidades para aperfeiçoamento próprio e de sua equipe. A liderança sem cultura de aprendizado, sem a consciência da imperfeição humana está fadada a perder-se na zona de conforto, que nada mais é, que um deserto onde não nasce, absolutamente nada. Se não me trai a memória, certa vez, disse Mario Vargas Llosa: Aquele que se acha perfeito, não passa de um perfeito idiota. A crença da perfeição conduz à paralisia.
As empresas não mais cultivam profissionais de posição inalterável e o frenético mundo dos negócios, impulsiona a dança das cadeiras, na mesma velocidade. Exemplificativamente, a figura do chefe samambaia, que só embeleza o ambiente, ou aquele, o Dâmocles (mitologia) que passa 8 horas diárias esperando uma espada cair sobre seu crânio, sem tomar decisões importantes, sempre esperando uma solução mágica da Diretoria imediata. A era da rapidez da informação e dos mercados altamente competitivos exige players qualificados e equilibrados emocionalmente, capazes de entender que, habilidades são buscadas a todo momento. O suposto líder que usa de ameaças, intrigas, assédio e desrespeito para alcançar metas não passa de um chefe de posição. Vida é aprendizado! E o verdadeiro líder busca junto ao seu time, ferramentas e estratégias e não armas, para alcançar os objetivos da empresa. Entretanto, a pergunta que vale uma carteira de clientes milionária é: por onde começar?
Pensando em seu ativo mais valioso, o ser humano, a PS SOLUÇÕES mantém um programa de mentoria focada em Capítulos de Liderança, cujo principal objetivo é desenvolver as habilidades essenciais para gestão de equipes, tendo-se por princípio a autogestão das emoções e desenvolvimento das soft skills e inteligência emocional. A base desses estudos é o desenvolvimento da atenção plena. Praticar atenção plena é focar atenção total no que está acontecendo fora e dentro de você — no seu corpo, no seu coração, na sua mente. É estar consciente de si e do entorno sem criticar nem julgar. Não é possível conhecer a si mesmo e aos membros do seu time se não houver atenção plena, e pleno estado de presença. No mundo das redes sociais e das informações em tempo real somos frequentemente sequestrados da realidade, do agora, para entrar no universo dos anestésicos virtuais que nos impedem de sermos parte da realidade e produzirmos todos os resultados que podemos.
Em algum momento apela-se para remédios sem receita, para aliviar a dor da vida comum — comida, drogas, sexo, excesso de trabalho, álcool, filmes, compras, jogos, redes sociais, futilidades, vida alheia etc. Todos esses remédios funcionam por algum tempo, mas a maioria tem efeitos colaterais, como ficar endividado, sofrer de síndrome do pensamento acelerado, déficit de atenção, transtorno de ansiedade, burnout, sofrer um desmaio ou acidente, ir para a cadeia, perder uma pessoa querida — então, a longo prazo, eles só fazem aumentar a angústia e o distanciamento de realidade. E nada pode ser mais desastroso para uma organização que um líder ausente de si mesmo. Que atire a primeira multa de trânsito, aquele que nunca chegou ao local de trabalho, dirigindo o próprio carro, sem ter a vaga ideia, de como chegou ali. Simplesmente, no piloto automático. E que não passou as 8 horas seguintes no mesmo módulo (zoombie).
Nossa capacidade de desenvolver habilidades é uma coisa maravilhosa. Infelizmente, aprender uma habilidade traz também, automatismos que acabam permitindo realizar tarefas em que somos hábeis, sem ter consciência delas. É uma pena, porque quando não estamos conscientes deixamos de perceber grandes porções da nossa vida. Quando nos retiramos do presente, a mente tende a ir para um destes três lugares: o passado, o futuro ou o reino da fantasia. Tais lugares não existem fora da imaginação. O único lugar que existe é aqui, e o único momento em que estamos realmente vivos é agora. As empresas perdem milhões anualmente com profissionais que estão alí, bem assentados em seus postos, mas frequentemente, testando o teletransporte de volta ao passado ou se aventurando no futuro, contudo, certamente, muito longe do presente e do que está acontecendo ao seu redor, justificando os números alarmantes de acidentes de trabalho e os baixos índices de desempenho profissional.
A atenção plena (mindfulness) ajuda a tomarmos consciência dos nossos padrões mentais de fuga, habituais e condicionados, e permite experimentarmos uma forma alternativa de estar no mundo. Trata-se de descansar a consciência nos reais acontecimentos do momento presente, nos sons ouvidos pelo ouvido, nas sensações sentidas pela pele, nas cores e formas recebidas pelos olhos. A atenção plena ajuda a estabilizar o coração e a mente, para que não fiquem se debatendo com as coisas inesperadas da vida. Quando praticamos a atenção plena com paciência e persistência, interessamo-nos por tudo o que acontece e ficamos curiosos em relação ao que podemos aprender, inclusive com as adversidades e até mesmo com a própria morte, pois tomamos consciência de quão precioso é o tempo e da brevidade da vida. A atenção plena é útil a ponto de se espalhar por todas as atividades da vida, levando a luz da consciência ampliada, a curiosidade e uma sensação de descoberta às ações diárias, como se levantar de manhã, escovar os dentes, passar por uma porta, atender ao telefone, ouvir alguém falar.
Dificilmente, uma pessoa fora do seu estado de presença será capaz de gerenciar adequadamente suas emoções, respeitar a si mesmo e fazer-se respeitar, auto motivar-se, ser tolerante e resiliente, melhorar suas relações interpessoais, controlar seus impulsos e regular seu estado de humor, comunicar-se educada e eficazmente e tomar decisões assertivas, não somente na vida profissional, mas também pessoal. A imagem da Vênus de Gaveta (1937), intrigantemente retratada pelo mestre surrealista catalão, Salvador Dalí, no início dessas linhas, mostra um corpo feminino, compartimentado por gavetas. Provavelmente uma remissão psicanalítica (grifo nosso), ao modo de nos organizarmos internamente e fazermos a gestão adequada de nossas emoções para sermos capazes de gerenciar outras pessoas. Acreditamos no trabalho realizado com alegria e satisfação e na gestão de pessoas através do amor. O universo corporativo jamais será um calmo oceano azul. Desafios virão de toda parte e são necessários, pois impulsionam o desenvolvimento, contudo, temos preparado nosso time para grandes oportunidades. Para os tempos de mar calmo: aprendizado! Para os momentos de tempestade: resiliência, espírito de equipe, empatia, comunicação amorosa e eficiente, sabedoria e proatividade! “Nau sempre a bom bordo, conscientes que mar calmo, não faz bom marinheiro”.
OBRAS DE REFERÊNCIA
TOLLE, Eckhart, O Poder do Agora, 2002, Editora Sexante, ISBN: 9788575420270.
CHOZEN BAYS, Jan, Como domar um elefante, Editora Alaúde, 2013, ISBN: 978-85-7881-156-3.
WILLIAMS, PENMAN, Mark & Danny, Atenção Plena, Mindfulness, Editora Sextante, 2015, ISBN: 978-8543101873.
Insights sobre liderança e Mindfulness (2024) – Andréa M. G. Leandro
Advogada, Compliance Officer CPC-A, CPC-PD, CIIC, CIPI, Master Coach (SB Coaching Brasil, Leader Coach (SB Coaching Brasil), palestrante, Mentoria Capítulos de Liderança, MBA Direito Econômico e Empresarial, MBA Negócios e Inovação, Pós-Graduação Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. Mestre em Ciências Sociais-Hospitalidade – Universidade Anhembi Morumbi – SP, Mestranda Energia Inteligente – Instituto Gnarus/Brasil, Mestranda Direito do Ambiente, Recursos Naturais e Energia – Universidade de Lisboa/ Portugal.
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